
Quando os relógios cravaram 12h28 dessa sexta-feira, completavam 168 horas do rompimento da Barragem de Brumadinho. Os termômetros registravam um calor infernal, superior a 30 graus. Há exatamente uma semana ocorria no mesmo instante uma das maiores catástrofes da história do estado. Os números oficiais divulgados até aquele momento pelas autoridades confirmavam 110 mortos na tragédia. Outras 238 pessoas continuavam sendo procuradas pelas equipes de resgate. A hipótese de se encontrar alguém ainda com vida é bem remota. Mesmo assim, 270 bombeiros continuam se rastejando e cavando buracos na lama. Seria lugar comum chamar esses profissionais de heróis, mas que outra definição é possível definir a quem se submete a uma incansável tarefa como essa?
São incontáveis as imagens que as equipes de televisão e repórteres cinematográficos já registraram dos bombeiros se escorando em bastões improvisados para não afundar em solo quente.
Foto: Divulgação Site Corpo de Bombeiros
Também não dá para medir quantas vezes vimos esses homens e mulheres se rastejando na lama, como se parecessem querer nadar em um solo barroso.
Foto: Divulgação Site Corpo de Bombeiros
Você já imaginou o risco que as operações com voos rasteiros dos helicópteros representam? Basta uma pá esbarrar em uma árvore e a chance de surgir outro acidente é enorme.
Foto: Divulgação Site Corpo de Bombeiros
Cansados, os bombeiros muitas vezes se entregaram com os rostos cobertos de tanta sujeira. As fotos que mostram esses profissionais sentados e parecendo olhar para lugar nenhum tem uma explicação: esgotamento.
Foto: Divulgação Site Corpo de Bombeiros
Horas de sono ao fim da jornada? Quatro, cinco... no máximo.
Mas o que isso pode representar para cada um ao fim dos trabalhos que ninguém imagina quanto tempo ainda vai durar?
O site da BBC Brasil fez um levantamento sobre os riscos para a saúde que a lama despejada da barragem pode causar em qualquer pessoa que tenha um mínimo de proximidade com toda essa sujeira. É uma situação muito grave para esses bombeiros que estão há uma semana em contato direto com toda a porcariada produzida pelos rejeitos.
O que tem na lama
Professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o geólogo Bráulio Magalhães Fonseca explica que o rejeito de mineração contém, basicamente, óxido de ferro, amônia, muita sílica, silte e argila. As barragens muito antigas, como de Brumadinho, podem ter elementos altamente tóxicos.
O médico Luis Fernando Correia, comentarista da CBN e do canal Globo News, vai mais além ao citar um estudo da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) que identificou 13 elementos químicos, entre eles níquel, magnésio e cádmio, encontrados na mineração da região do quadrilátero ferrífero, em Minas.
"São chamados elementos traço e mesmo em quantidade pequena podem ser prejudiciais. O problema é que não é possível medir qual a concentração a qual as pessoas foram expostas", avalia Correia.
Ou seja, os riscos imediatos e futuros à saúde para quem teve contato com a lama são grandes. Infecções, contaminações e, num futuro próximo, até câncer e doenças autoimunes estão entre as possibilidades mais assustadoras.
Diretor assistencial da Fhemig (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais), o médico Marcelo Lopes Ribeiro afirma que "as doenças infectocontagiosas ou parasitárias podem surgir agora. Como é barro, é córrego, pode ter leptospirose, aumento da dengue e de febre amarela".
A exposição a elementos químicos também podem ser altamente prejudiciais à saúde a médio e longo prazo.
"A qualidade da água dos rios e dos peixes precisa ser monitorada e a população da região precisa ser acompanhada. Daqui a dez anos podem surgir casos de câncer e de doenças autoimunes e podemos não associá-las ao rompimento da barragem", afirma o médico Luis Fernando Correia.
Produtos químicos e traumas
Nem a própria Vale consegue afirmar com precisão todos os elementos químicos que estão na lama que seguiu em direção ao rio Paraopeba.
Substâncias que estavam armazenadas nos galpões da mineradora, e outras espalhadas no caminho por onde a lama passou, se misturaram aos rejeitos.
A empresa recolheu algumas amostras e enviou para análise em laboratório, exatamente para entender os riscos que representam para a saúde.
A previsão é de que o laudo fique pronto em 15 dias.
Como os rejeitos já chegaram aos rios da região, a fauna e a flora fatalmente foram atingidos.
No quarto dia de operações de buscas por sobreviventes, o coordenador-adjunto da Defesa Civil de Minas Gerais, tenente-coronel Flávio Godinho, relatou que alguns bombeiros tiveram intoxicação por causa do contato com a lama em Brumadinho.
O Corpo de Bombeiros explicou que os militares e os voluntários estão tomando medicamentos para minimizar os efeitos do contato com material orgânico, como forma de prevenção.
A medicação consiste em dois comprimidos a cada sete dias para evitar doenças como a leptospirose, pneumonia e febre tifoide.
"Esses medicamentos podem ocasionar náuseas e diarreia. São efeitos colaterais", explicou a corporação, por meio da assessoria de imprensa.
Segundo o médico sanitarista Marcus Vinícius Polignano, em entrevista ao "Correio do Povo", o contato direto com o rejeito de minério pode trazer também graves problemas para a saúde mental dos socorristas.
"Essa lama enterrou pessoas. Enterrou histórias. As pessoas, evidentemente, estão sofrendo. Existe um sofrimento mental. Mesmo os trabalhadores que estão lá, os bombeiros, ao assistirem cenas absolutamente grotescas, acabam por refletir na capacidade e no problema psíquico deles".
Vale lembrar que em outros incontáveis episódios, bombeiros do Brasil inteiro participaram de operações que igualmente exigiram atos de bravura.
Para não cometermos injustiça com nenhuma corporação e seus militares, evitaremos citar exemplos. Assim, como também merecem nossa admiração e respeito bombeiros de diversos países que não medem esforços na tentativa de salvar vidas.
Infelizmente, milhares desses profissionais também perderam suas vidas em atuações de alto risco, como no atentado às Torres Gêmeas de Nova Iorque, em 2001, quando 343 bombeiros se tornaram vítimas fatais.
Em 2013, no combate a incêndios florestais nos Estados Unidos, 19 bombeiros de um esquadrão de elite formado por 20 homens morreram enquanto tentavam debelar o fogo.
À todos eles, os nossos eternos agradecimentos.
Foto capa: Divulgação Site Corpo de Bombeiros
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Olá, deixe seu comentário para Bombeiros de Brumadinho podem estar contaminados pela vida toda
Ney Oliveira
Guilherme Mendes
Ney, boa tarde! Nas matérias em que o professor Luis Fernando Correia falou sobre o assunto, eles não citou nominalmente todos os 13 elementos, apenas falou sobre a possibilidade dessa quantidade. Em todos os sites que você fizer pesquisas sobre as declarações do professor você verá que ele cita apenas "entre eles níquel, magnésio e cádmio". Lamento não poder ser mais preciso na resposta. Abraço.
Mariângela Silva
Existem alguns recursos complementares que podem também minimizar a ação das substâncias tóxicas.
A Terapia Floral é uma, que já está sendo utilizada em Brumadinho.
Outro recurso é o spadetox iônico, que através de uma corrente galvânica, remove através de nossos pés ou mãos os metais pesados e outras impurezas de nosso corpo. Um abraço Mariângela Araujo de Almeida e Silva
Guilherme Mendes
Bom dia, Mariângela! Muito obrigado por esclarecer tanto nesse espaço. Infelizmente, as informações nesses sentido são parcas. As próprias autoridades de segurança deveriam ser as primeiras a relatar essa tranquilidade para a comunidade. Venha sempre nos visitar. Será um prazer ter a sua leitura e seus comentários. Abraço.
Lívia Antonieto
Que Deus protejam vocês sempre, nossos heróis Bombeiros do Brasil e do Mundo!
Guilherme Mendes
Lívia, não podemos nos esquecer também dos voluntários que se prontificaram a participar das operações. Muitos vieram de longe, gastaram dinheiro do próprio bolso, só pela satisfação de poder ajudar. Que todas essas pessoas sejam recompensadas divinamente. Abraço.
Rita de Cassia Lanschi Bonesi
Guilherme Mendes
Bom dia, Rita! Que todos possam estar protegidos. Abraços.
José Arnaldo Castro
Guilherme.
Você está enganado. Você sabe que sou do ramo e tenho outros pensamentos a esse respeito. Isso não é engenharia. Engenharia é saber que um dia uma estrutura poderá vir a dar problemas como o seu colapso. Cientificamente a engenharia prova isso e denuncia. A engenharia tem seu limite. Daí para frente é política torpe dos seus responsáveis. Repito, mais uma vez como já fiz em outras ocasiões. A engenharia vai bem sob a ótica de uma ciência. O que vai mal é a engenharia "comercial" aqui no Brasil. Os maus políticos sobrepõem suas influências sobre a técnica. A continuar assim, e tudo parece que irá, com certeza novos acidentes com barragens, viadutos que caem, etc continuarão a acontecer. Mais pessoas morrerão e perderão seus entes queridos e suas propriedades. Pobre Brasil. Não adianta nada pormos nossos votos em determinadas pessoas que têm até intenção de melhorar o comportamento no país. Mas sou incrédulo. Essas pessoas não irão mudar o comportamento, pois, a impunidade está acima das leis brasileiras. Isso que penso. Obrigado
Guilherme Mendes
Rita, essas pessoas merecem todo o nosso respeito.Tiveram atos de humanidade e coragem que deveriam servir de exemplo para o país inteiro.
José Arnaldo Castro
É mais um caso de omissão a se lamentar, não só no estado de Minas Gerais, mas no Brasil. O mundo não quer saber se a Vale do Rio Doce é ou não uma multinacional brasileira. O que é passado para a opinião pública mundial é que o acidente foi muito grave, ocorreu no Brasil e pela segunda vez em pouco mais de três anos, com mortos e desaparecidos, com danos materiais e ao meio ambiente e pelos mesmos motivos. Passado esse curto espaço de tempo para os danos dessa magnitude, nada foi feito de positivo pelas autoridades brasileiras para apurar suas causas e sana-las. Os inúmeros órgãos responsáveis pela fiscalização e controle de barragens veladamente confessam que não têm condições técnicas e humanas para exercerem suas funções constitucionais. As autoridades sempre dizem que agora vão tomar as devidas providências para que não ocorra mais acidentes com barragens. O próprio atual presidente da Vale disse, ao assumir a direção da empresa: "Mariana nunca mais". Se não fosse trágico, seria uma piada de mal gosto. Para formarem equipes de fiscalização de barragem, sejam elas quais forem suas finalidades, não as preparam tão rapidamente como as autoridades querem passar para o povo. Para uma fiscalização ser eficiente são necessários profissionais que abrangem um grande especto do conhecimento humano, como geólogos e geotécnicos com especificações em barragens. Profissionais de grau médio com especialização também em barragens, equipamentos próprios, etc. Deve-se levar em conta também alguns anos de experiência na área. Nada disso se faz em poucos anos além de contar com dispêndios para o deslocamento das equipes pelo Brasil (robustos automóveis e caminhonetes, aviões, helicópteros, modernos drones, etc. Deve-se contar também que cada inspeção de fiscalização, além de ser demoradas, tem que ser realizadas por essas equipes pelo menos um vez ao ano ou como determina a Lei 12.334/09/2010 que estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens. Será muito difícil e tomará muitos anos para que o Brasil tenha um nível aceitável de segurança em barragens, em especial, as de solo, como foram as de Mariana e Brumadinho.
Guilherme Mendes
A engenharia brasileira tem também uma grande parcela de culpa em apresentar, aprovar e assinar projetos como esse. Abraço.
Clara da Silveira
Guilherme Mendes
Que esses homens jamais caiam no esquecimento desse país que guarda na sua memória outros tipos de heróis. Infelizmente, é o que vai acontecer. Abraço
Clara Santos
Guilherme Mendes
Lamento muito, Clara! Minha mãe também foi criada em Barbacena. Esses profissionais se entregam de corpo de alma. Eles merecem os nossos mais sinceros respeitos. Abraço.
gulioa rdao
verdadeiros herois
Guilherme Mendes
Que jamais sejam esquecidos. Que a história trate os idolatralos. Abraço
Igor Pereira
Guilherme Mendes
Igor, nossos políticos são responsáveis por muita coisa se errado que acontece nesse Brasil. Brumadinho e Mariana foi só mais um vexame. Abraço
Lívia Antonieto
Não existe dinheiro no mundo que vá aliviar essa dor e a falta que cada um vai fazer.
Meus eternos sentimentos a todos os familiares das vítimas de Brumadinho.
Guilherme Mendes
Igor, a consciência é algo que não se compra. Se eles realmente se venderam, vão carregar na consciência até o último suspiro de vida o mal que fizeram ao povo mineiro. Seriam tão criminosos quanto qualquer bandido que faz assalto a mão armada no país. Abraço.