
O ano começou com duas bombas. Primeiro foi o anúncio da aposentadoria do jornalista Alexandre Garcia. Agora, o fim do Vídeo Show. No final do ano, a emissora já havia convocado vários profissionais para renegociar os salários. Outros não tiveram essa chance e acabaram saindo da empresa. Mas, afinal, o que está acontecendo com o maior grupo de Comunicação do país?
Não existe um único motivo para explicar a montanha russa da emissora. Na verdade, esse processo começou há tempos, talvez há mais de uma década.
O modelo TV aberta, sem assinatura, é uma exceção no Brasil. Nenhum país tem tantas emissoras produzindo conteúdo de boa qualidade e sem cobrar nada do telespectador.
Não é só a Globo que se encaixa nesse perfil. Record, SBT/Alterosa, Band e RedeTV criam diversas atrações que contemplam a todo gosto.
Nosso cardápio vai de novelas, seriados, humorísticos, telejornais, filmes, talk show, programas de auditório, musicais, esportes e até religiosos. Passa de uma dúzia. Tudo de graça.
Quem sempre bancou os altos custos das produções foram os patrocinadores e a venda de alguns produtos para televisões do exterior. Com a crise econômica que se abateu sobre o país de 2008 para cá, as verbas publicitárias foram ficando cada vez mais minguadas.
O minuto nobre na grade da tv, nos horários de maior audiência, foram pouco a pouco sendo enquadrados em uma tabela menor. Ao mesmo tempo, o advento da internet, com uma multiplicação de novas plataformas e de canais a cabo, fez boa parte da audiência migrar aos poucos para as opções que surgiam.
O que passamos a ver foi uma queda nos anúncios, ao mesmo tempo em que o público foi se tornando menor. Claro que isso não aconteceu da noite para o dia.
Estamos falando de um processo que vem ganhando corpo há anos.
Para tentar recuperar terreno, as emissoras têm buscado agradar a todo tipo de público. Qualquer nicho interessa nessa guerra para engordar os números do Ibope. Mas a estratégia não está dando certo por vários motivos e é isso que vamos tentar entender daqui para frente.
Público fiel a Globo
A Rede Globo se consolidou como a maior emissora do Brasil graças a um ótimo padrão de programação e a um público fiel. Atenção que fidelidade não é sinônimo de satisfação.
Assim, a emissora caminhou por décadas, suportando com maestria o surgimento de concorrentes, e se mantendo sempre na liderança junto ao público. Esporadicamente um programa ou outro balançava diante de uma atração criada por uma concorrente, mas nada que abalasse o império dos Marinhos.
Só que o mundo começou a mudar e chegou a tal internet. Os visionários entenderam logo que se tratava de uma revolução, mesmo que seu apogeu fosse demorar um pouco. A Globo, não. Ela continuou apostando na própria sobrevivência por muitas décadas.
O que ela talvez não esperasse é que as novas mídias digitais fossem entrar em cheio na cabeça dos jovens.
Um novo mundo
As mídias criadas no século XXI contaminaram rapidamente uma expressiva parte do público jovem. A cada nova geração, mais e mais gente consome tudo de novo que é lançado.
Ao mesmo tempo, a Globo se enveredou na tentativa de agradar públicos que não se enxergavam nos produtos da emissora. Os evangélicos são um bom exemplo.
Durante muitos anos, Globo e Record andaram em pé de guerra depois que o bispo Edir Macedo comprou a emissora paulista. Assistir uma reportagem religiosa mostrando um culto que não fosse da igreja católica era quase impossível. Isso só mudou de uns três anos para cá, quando a audiência da Globo já não era a mesma.
O mesmo vale para a discussão sobre ideologia de gênero e a presença de homossexuais na programação. Hoje, quase toda novela ou mini série aborda o assunto com personagens marcantes.
Mas enquanto tenta trazer para dentro do seu guarda chuva um público que antes não tinha nenhum espaço, ou era discriminado, a Globo também passou a desagradar a uma boa parte de seus antigos fiéis telespectadores mais conservadores.
Nesse ponto a emissora ficou diante de uma encruzilhada. Como ignorar uma fatia tão importante da sociedade que clamava por espaço? Como produzir também conteúdo com apelos sexuais e não afugentar seu público cativo?
Simultaneamente, a nova safra de apresentadores e a linguagem bem informal causaram um choque. Hoje todos os telejornais são tratados por apelidos, como Jota agá (JH). Os apresentadores só se chamam por diminutivos, muitas vezes citando duas sílabas do nome. Ternos foram abolidos do figurino dos repórteres e na bancada dos telejornais a informalidade virou item obrigatório.
A intenção é, claro, tentar aproximar a emissora o máximo possível do público, quebrando antigas formalidades.
Relaxou até demais. As redações, simultaneamente, parecem a viver uma crise na qualidade e precisão das notícias. Já reparou quantas vezes na semana o Willian Bonner pede desculpas por algum erro de informação? E olha que estamos falando do telejornal de maior audiência no Brasil e onde trabalham os jornalistas selecionados a dedo pela direção.
Outro equívoco está na postura de comentaristas que defendem, mesmo de forma discreta, as suas convicções políticas ao analisar assuntos.
Vivemos hoje em uma sociedade que tem um alto grau de informação e convicções formadas. Ao ouvir analistas, o público espera explicação, prováveis desdobramentos e desenrolar dos fatos, mas sem nenhum interesse na preferência política ou ideológica dos comentaristas.
É por isso que tantos são criticados sem dó nas redes sociais. É urgente que se entenda a necessidade de uma revisão no formato dessas análises. Que os opinadores percebam que o público não busca conhecer a visão pessoal deles com tendência ou influência partidária, mas, sim, uma análise imparcial dos temas.
A repetição de histórias e dramas
A teledramaturgia brasileira já foi propagada diversas vezes como a melhor do mundo. As telenovelas produzidas aqui são comercializadas no mundo todo. Não há como negar que o Brasil e, em especial, a TV Globo são uma referência. Mas até o consagrado produto da emissora não goza mais do mesmo alto índice de audiência de tempos atrás.
Vira e mexe alguma novela ainda arrasta um bom público para a frente da TV, como Avenida Brasil e Segundo Sol. As demais lutam a duras penas para preservar o público que já tiveram no mesmo horário.
Um dos motivos está na falta de inspiração dos autores e na repetição de formatos que deram certo em outros folhetins. A figura de megeras parece personagem obrigatório em todas as tramas. O sofrimento que cerca os galãs e as mocinhas também se arrasta até o último capítulo.
A inspiração tem passado longe das cabeças de quem escreve os textos. A consequência a médio prazo vai ser o desaparecimento desse modelo.
O público jovem, que domina cada vez mais o potencial de telespectador, é ávido por outro tipo de produção. A começar pelo número de capítulos. Eles estão muito mais para temporadas ou mini series do que para intermináveis novelas.
Isso sem falar na sede de novidades. O mundo consumista, que todo dia espera algo novo para nos oferecer, não tolera ver antigos artistas sempre fazendo novelas e mais novelas.
A consequência é a debandada de atrizes famosas que a Globo dispensou recentemente, como Malu Mader, Maitê Proença, Carolina Ferraz e Giulia Gam.
Enquanto isso, novas plataformas de streaming como Netflix e Amazon têm cada vez mais assinantes, provocando uma fuga em massa dos antigos canais abertos.
Se não bastasse a procura por novas opções fora da TV aberta, uma fatia do público que ainda se manteve presa a essa escolha (muitas vezes por questões econômicas), virou a chavinha e foi acompanhar programas de emissoras concorrentes.
Em praças como São Paulo, hoje a Globo perde na audiência em vários horários, o que tem levado a emissora a acreditar na necessidade de uma guinada radical, mudando substancialmente a programação de 2019. Mas até nas mudanças a empresa se mostra confusa. O esperado programa matinal com Fernanda Gentil, ex-apresentadora do Esporte Espetacular, não passou de pilotos. O projeto está adiado (ou abandonado), sem nenhuma justificativa para o público.
Cortes severos no esporte
Outra audiência considerável da Globo sempre foi dos eventos esportivos que transmitia. Mas devido à concorrência de poderosos grupos internacionais, que entraram na disputa por alguns produtos, a emissora sofreu perdas consideráveis.
O direito de transmissão da Champions League é um deles. Na Copa Libertadores, por causa da Fox, a Globo tem limitação no número de partidas que pode exibir.
Em 2019, por pressão a emissora vai mudar o horário dos jogos ao vivo nas quartas-feiras, que passarão para às 21h30, provocando um achatamento na grade da emissora.
Alguns campeonatos estaduais tiveram sequer jogos transmitidos no meio de semana durante a primeira fase. O motivo seria o corte nos gastos. Aliás, outro problema que afetou em cheio a emissora.
Recentemente, a direção chamou vários integrantes da primeira linha de transmissão para reduzir seus contratos. Galvão Bueno e Cléber Machado foram os mais afetados. Outros com menos prestígio acabaram dispensados, como os comentaristas Paulo César Vasconcelos e Lito Cavalcante, do canal por assinatura Sportv.
Audiência e publicidade já não gozam mais da fartura de antes. No ano passado as placas na beira do campo no Campeonato Brasileiro tinham vários espaços ociosos. Se você se recordar, vai lembrar que algumas foram ocupadas com divulgações do programa Conversa com Bial e os Cavalinhos do Fantástico.
Antes, essas placas eram negociadas por valores estupendos. Até a Fórmula 1, antiga menina dos olhos do Grupo Globo, entrou em baixa, e que baixa. Na última temporada muitas provas deixaram de ser transmitidas ao vivo no canal aberto, inclusive o GP do México, quando Lewis Hamilton ganhou o título.
A todo esse drama se soma o corte de verbas de publicidade do governo federal, que parou de despejar caminhões de dinheiro na programação das televisões. Enquanto tenta se adaptar aos novos tempos, tirando do ar programas antigos, remanejando profissionais, trocando produtos na grade e querendo agradar a todos os públicos, a Globo sabe internamente que está prestes a viver um ano muito difícil.
A colheita vem em cima das escolhas do que se planta. Resta saber o que o grupo semeou para tirar da horta em 2019.
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ande anselmo
elton gregorio
em fim, pensaram que chegaram ao status de direcionar por completa a sociedade.
Esqueceram que somos sim um povo com princípios morais e não não amorais.
A época que a Globo dominava, foi novelas estilo Rock Santeiro, Selva de Pedra. Novelas que mesmo tendo imoralidades ainda assim privilegiava mais a família, nesta época não havia homossexualismo explícito e nem cenas de sexos explícitos.
Depois foram aos poucos corrompendo-se, as famílias começaram a perceber que novelas traziam enredo em que Pais e filhos se matavam, irmão e irmão traiam-se entre si, a veadagem escancarada, etc...
Por fim, quando o público percebeu que destruíram a sociedade, começou a se afastar (foi o meu caso que nem ligo mais a tv globo e quando alguém chega lá em casa e quer assistir novela, não consigo ficar na sala).
além disso, nos últimos tempos demostraram-se unicamente com interesses particulares no campo político, fizeram de tudo para derrubar o atual presidente (sendo que mulheres e homens que sua história mostra pouco valor moral, começaram a gravar áudio visual com o conhecido "Ele Não" pensando que ainda dominam por completo a imbecilidade do povo brasileiro. Deu ruim, a feitiço virou contra o feiticeiro. Porque somos sim uma sociedade com valores morais, mesmo que estes valores passaram boa parte do tempo sobre cinzas , mas a brasa nunca apagou e agora incendiou a fogueira.
A Globo, não volta mais,
A globo fez tudo errado, se achou no poder absoluto e agora vai cair. Vai cair porque somos sim uma sociedade com valores morais, por mais que tentaram destruí-lo , ele voltou com força.
Ramon Drumond
José Braga
A 10 anos não vejo tv. O rádio e infinitamente melhor.
Lau Filgr
Guilherme Mendes
Lau, bacana a gente debater. Por isso gosto de dizer que ter opinião não é ser dono da verdade. É apenas a nossa forma de pensar. A diversidade de canais e de programação tem a vantagem de contemplar a todos, ou quase todos. Venha sempre nos visitar. Abraço.
João Azevedo
Guilherme Mendes
É incrível como o mundo ainda tem algumas tradições que beiram a idade média. Obrigado pela visita, João.
Mara Silva
Guilherme Mendes
Cada qual com seus problemas. Abraço
Thiago mansur
Guilherme Mendes
Thiago, bom dia! A gente não pode deixar de levar em consideração que o mundo vive um grande período de transformação. Um canal aberto, que abrange um país do nosso tamanho, que precisa contemplar a todos, vive um desafio que não e nada fácil. Não acho justo só atirar pedras na emissora. Considero, dentro de uma opinião simples, que alguns conceitos atuais deveriam ser revistos. Grande abraço.
Gi Arruda
Guilherme Mendes
Gil, o mundo é dinâmico e a Globo acompanha com muita atenção os movimentos de audiência e tendência. Correção de tragetórias é sempre possível. Abraço.
Mara Silva
Mara Silva
Guilherme Mendes
Que bom que hoje temos várias opções. Não somos mais reféns de nada. Abraço
Sérgio Rosa
Divina Lopes Medeiros
Guilherme Mendes
Divina, julgar é fácil, difícil é administrar muitas situações em meio a crises e incêndios. Sinceramente, se um dia a Globo deixar de ser uma super potência será uma grande perda para o Brasil, apesar de todos os problemas que ela enfrenta. Grande abraço.
Lizene Kipper
A globo tem: leticia sabatela
É pouco?
Guilherme Mendes
Lizane, a Rede Globo é um emissora que tem milhares de funcionários. Posso testemunhar que as regras internas são rígidas, mas as pessoas também tem seus direitos fora do ambiente de trabalho e sem patrulhamento. Enfim, cada qual com os seus problemas. Essa é uma discussão muito complexa. De qualquer forma, muito obrigado por visitar o nosso blog. Foi um prazer receber sua opinião. Volte sempre.
Mara Silva
Ana Cruz
Guilherme Mendes
Ana, bom dia! O que você entende por ficar cima do muro é um conceito relativo. Eu gosto sempre de dizer que ter opinião não é ser dono da verdade. Ou seja, não considro a minha visão melhor do que a de ninguém, apenas a minha. Não tenho nenhuma pretensão que as pessoas aqui pensem que os textos são uma referência ou uma verdade absoliuta. Acho que falta isso a sociedade. A gente vive um período de muita imposição do que "eu penso". Mas venha sempre debater com a gente. Foi um prazer contar com a sua audiência. Abraço e um bom dia.
Osvaldo Ribas
Guilherme Mendes
Osvaldo, bom dia! Quando eu falo que elas produzem produtos de boa qualidade não é uma generalização, assim como não creio ser justo dizer que todo o conteúdo é deplorável. Existem, sim, algumas produções muito boas, outras, nem tanto. No frigir dos ovos acho que o saldo ainda é positivo, mas que pode e deve melhorar. Grande abraço para você e uma ótima sexta-feira.
Patrícia Schmidt
Guilherme Mendes
Patrícia, são novos tempos. Nem sempre melhores. Tudo na vida tem seu apogeu e seu declínio. Não dá para dizer que a Globo está em decadência, mas provavelmente, já vivemos dias melhores. Obrigado. Abraço
Márcia gradepell Obrigada
Guilherme Mendes
A Globo tem uma história sensacional que não pode ser desprezada. Grande abraço.
Welltton Siqueira
Roberto Marinho deve estar entrigado no caixão ⚰! O fato é, ou você mantém o seu público alvo e propostas com altos níveis de diversidade também se adaptando e adequando as atualizações da humanidade ou perde espaço! Fatos!
Guilherme Mendes
Wellitton, temos que ter orgulho por termos vivido um período muito especial. Os jovens vão dizer que hoje é muito melhor. Mas as nossas lembranças são ouros que ninguém pode carregar. Grande abraço.
Divina Lopes Medeiros
Guilherme Mendes
Divina, você tocou em um ponto muito relevante. Com um controle remoto na mão temos uma centana de outras opções. E cada vez que fazemos uma escolha isso reflete na audiência, que é muito importante comercialmente para as emissoras. Abraço.
sinesio Vilaça
Guilherme Mendes
Eita! Vilaça, fomos longe agora. Muito bacana. O tempo corre, não é companheiro? Mas as boas lembranças são eternizadas. Muito obrigado pela visita. Venha sempre. Grande abraço.
Mara Silva
Guilherme Mendes
A tentativa de agradar aos mais diversificados públicos é uma tarefa impossível. Isso não existe. Esse é um erro que eles estão demorando a reconhecer. Abraço.
Eberson Lima
Guilherme Mendes
Eberson, o assunto é muito extenso. Dava para escrever um tratado. O bacana é provocar reflexão. Grande abraço.
Antonio Silva
Guilherme Mendes
Antônio,’todos os profissionais merecem respeito. Sempre tive isso como princípio. O Galvão tem uma história muito bacana. Hoje ele divide opiniões. Obrigado por visitar o blog. Abraço
Gustavo Valadao
Guilherme Mendes
O mundo tem levado a uma gangorra perigosa. É difícil ficar contra a tendência. Mas vamos em frente. Podemos ser seletivos sem ser carregados pela maioria. Abraço.
Mauricio Santos
Por isto a GLOBO vai pagar um preço muito caro por este erro.
Guilherme Mendes
O jornalismo é regido por direções. Mas tem uma escola sensacional. Grande abraço.
Mara Silva
Guilherme Mendes
Mara, por uma questão de ética, prefiro não comentar nenhum nome. Grande abraço.
Edson Mendes
Guilherme Mendes
Edson, o mundo vive um período de muitas mudanças e de extrema velocidade. É preciso antecipar cenários e adotar estrategias rápidas. Mas também é certo que caminhamos para a pulverização. Jamais teremos gigantescos monopólios de comunicação. A adversidade da audiência exige modelos e opções múltiplas.