
A história é narrada pelo coordenador técnico das categorias de base do Cruzeiro, Emerson Ávila. Ele conheceu Jefferson em uma competição quando observava jogadores com potencial para jogar no clube. O centroavante de um dos times passou batido pelo desempenho em campo. O parceiro de ataque dele, sim, chamou a atenção junto com o zagueiro do time da Ferroviária de Assis. Os dois acabaram convidados por Ávila para integrar um time do Cruzeiro que iria disputar um torneio em Alegrete. Emerson já deixava o estádio em que observara os meninos quando foi abordado pelo tal centroavante que se apresentou com outras credenciais. O nome dele: Jefferson de Oliveira Galvão. Sua real posição: goleiro.
Um garoto determinado a vingar no futebol
O enredo é mesmo inusitado. Aconteceu em 1996, em Foz do Iguaçu. Em campo se enfrentavam dois times do interior de São Paulo que, por coincidência, tem o mesmo nome, Ferroviária. Uma da cidade de Araraquara e outra de Assis. Emerson Ávila estava lá, fazendo o trabalho de olheiro para garimpar meninos que tivessem condições de vestir a camisa do Cruzeiro. Os escolhidos iriam defender o clube em uma competição tradicional de categoria de base que acontece no Rio Grande do Sul, em Alegrete.
Jefferson jogou aquele dia de centroavante. O desempenho dele foi discreto, nada que justificasse uma chance no Cruzeiro. Quando Emerson Ávila deixava o local da partida foi surpreendido com um garoto que correu na direção dele. Os dois tiveram um diálogo que foi mais ou menos assim:
- Professor, estou sabendo que o senhor está fazendo uma escolha de jogadores para levar para o Cruzeiro. Eu queria saber se o senhor podia me dar uma oportunidade porque na verdade eu não sou atacante, eu sou goleiro.
- Apresenta junto com os outros (foi a frase de Ávila).
Emerson percebeu de cara que estava diante de um garoto com muita personalidade. "A maturidade do menino me chamou a atenção. O fato dele ser muito desinibido e falar assim", explicou o treinador.
Nas duas semanas seguintes a equipe formada pelos meninos que sobressaíram no torneio "Brasileirinho Dente de Leite" treinou em Cascavel. Com apenas 13 anos Jefferson estava lá, no gol, para ser titular. Dali o grupo se mandou para Alegrete. Na Copa EPIFAN o goleiro experimentou os dois lados que a posição dele proporciona no futebol. O time do Cruzeiro era bem inferior a outras equipes como Internacional, Grêmio, Argentino Juniors e River Plate. Lógico que os mineiros não poderiam ir bem, mas quanto mais a Raposa era pressionada nos jogos, mais Jefferson se destacava. O que faltava para ele se mudar para Belo Horizonte aconteceu no dia de um clássico.
"Contra o Inter o jogo foi zero a zero e Jefferson fechou o gol. Após a partida um representante do Grêmio procurou a comissão técnica querendo saber se todos os jogadores tinha contrato", conta Emerson.
Ávila sabia exatamente qual era intenção do dirigente gaúcho e respondeu da seguinte forma: "nossos jogadores não são federados, com exceção do goleiro".
O passo seguinte foi procurar o diretor de base do Cruzeiro na época, Chafith Felipe, e contar o que estava acontecendo nas bandas do Rio Grande. Emerson usou uma frase que foi decisiva para convencer o dirigente: "chegou a hora de colocar o Jefferson no ônibus e leva-lo para BH". Começava ali a trajetória oficial do centroavante que virou goleiro e foi parar na seleção.
Jefferson nos primeiros tempos de Cruzeiro com o técnico Emerson Ávila (Foto arquivo pessoal, perfil Instagram)
Um goleiro que jogava de atacante para ser famoso
Jefferson nasceu no dia 2 de janeiro de 1983 em São Vicente, mas cresceu na cidade de Assis. Antes do futebol ele chegou a se apresentar em um circo como assistente de palhaço. Gostava também de corridas de velocidade e praticava capoeira. Uma vez, em uma entrevista a ESPN disse cometeu furtos na adolescência.
O menino canhoto e alto começou a jogar pela Ferroviária de Assis. A vontade dele era de ser atacante, mas acabou convencido pelo técnico Carlos Antunes a caminhar para o gol por causa da estatura. A resistência inicial em ser o camisa 1 estava na crença do garoto de que os atacantes "ganhavam melhor e eram mais famosos".
Jefferson como atacante da ferroviária de Assis (Foto arquivo pessoal, perfil Instagram)
Se mudou para a capital mineira no início de 1997, quando tinha 14 anos. Três temporadas depois foi treinar entre os profissionais. Felipão, que era o treinador, aprovou o goleiro e mandou efetivar o jovem no grupo.
O melhor momento no gol estrelado poderia ter sido na Copa dos Campeões de 2002. Jefferson era titular do time principal e se destacou em todos os jogos da competição, menos na decisão. Diante do Paysandu o goleiro foi acusado de ter falhado em nada menos do que três gols. Desgastado com a torcida acabou emprestado ao América-SP, mas não jogou na equipe paulista. Em 2003, foi para o Botafogo defender o clube na Série B do Brasileiro. A carreira decolou de vez.
Dois anos depois, valorizado, acabou comprado pelo Trabzonspor, da Turquia. Depois de três temporadas se transferiu para o Konyaspor e retornou ao futebol carioca em 2009.
A primeira convocação para a seleção aconteceu em 2010. Jefferson esteve em 63 partidas do Brasil e jogou 22 vezes. Foi campeão da Copa das Confederações em 2013.
A carreira acabou recheada de títulos
Pelo Botafogo Jefferson disputou 458 jogos. É o terceiro jogador que mais entrou em campo com a camisa do clube, atrás apenas de Mané Garrincha e Nilton Santos.
No currículo tem 14 títulos como profissional e dois com a seleção Sub 20, um deles o do Mundial de 2003. Em 2011 e 2014 foi eleito ainda o melhor goleiro do Campeoanto Brasileiro. Jefferson vai se despedir dos gramados também com a fama de pegador de pênalti. Defendeu 19 pelo Botafogo e 2 pela seleção. Um deles teve a repercussão de um título. Foi do argentino Lionel Messi em 2014, em um Superclássico realizado na China. O Brasil vencia por 1 a 0. O jogo terminou 2 a 0 para a nossa seleção.
Hoje, contra o Paraná, Jefferson vai entrar em campo pela última vez. Com 35 anos ele ainda poderia jogar mais um tempo. O que fez o goleiro jogar a toalha foram as lesões que sofreu recentemente. No estádio Mané Garrincha se encerrará a carreira do atacante que driblou a timidez para ganhar uma chance no gol do Cruzeiro e virou uma lenda no Botafogo.
* Contra o Paraná, Jefferson completou 459 partidas pelo Botafogo
Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo
* A foto que ilusta a capa é de autoria de Luciano Belford/SSPress/Botafogo
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Olá, deixe seu comentário para Jefferson, o centroavante que se consagrou no gol
Rodrigo Rodrigues
Guilherme Mendes
Muito obrigado, Rodrigo! O Jefferson fechou ontem com chave de ouro vencendo mais uma. Venha sempre nos visitar no blog. Abraço